O REGRESSO (Vozvrashcheniye)
ANDREI ZVYAGINTSEV * 2003 Russia

O filme é pungente porque é um rancor arrancado à vontade de ternura, à interpelação viva de uma carência afectiva, tudo se complicando ainda mais quando acontece um inesperado acidente que vai desfazer aquela família reentrada. O REGRESSO é muitíssimo bem filmado, sabendo trabalhar os tempos de silêncio numa espiral de angústia e os confrontos como gestos a pedir amor. E os seus actores são esplêndidos.
Jorge Leitão Ramos / EXPRESSO
Isolando as personagens numa ilha, junto a uma floresta, Zviagintsev chega a sugerir os sinais de um filme de terror, que fica por explorar em proveito da metáfora – do género confronto entre a velha e nova Rússia.
Kathleen Gomes / PUBLICO

O REGRESSO, a primeira obra bela, luminosa e enigmática do realizador russo Andreï Zvyagintsev, é a história de um pai que regressa a casa da mulher e dos dois filhos depois de uma ausência de aproximadamente 12 anos. Cedo, pressentimos que a reunião não vai ser fácil. No primeiro olhar que lançam ao pai ele está a dormir numa posição que lembra o quadro Andrea Mantegna “Cristo Morto”. Os dois correm a comparar o rosto deste quase desconhecido com o de uma velha fotografia de família, enfiada dentro de um livro ao lado de uma ilustração de sacrifício de Isaac por Abraão. “Quis lembrar as pessoas que os contos bíblicos continuam a fazer parte das nossas vidas”, diz Zvyagintsev. “Porque os seres humanos não mudam, enfrentam as mesmas questões e estão à procura das mesmas respostas hoje que estavam há séculos atrás. O que é o amor? O que é o sacrifício? O amor tem a ver com palmadinhas nas costas e palavras carinhosas ou com acções, algumas vezes irreversíveis ou fatais?” O filme de Zvyaginstev marca um regresso ao quase religioso misticismo da sociedade pré-revolucionária russa.
Leslie Camhi / THE NEW YORK TIMES
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