
Nascido do encontro de elementos vindos do jazz, como Nuno Rodrigues, e da inclassificável Filarmónica Fraude de António Pinho, a Banda do Casaco viverá muito da liderança destes dois elementos e da sua capacidade para se rodearem de excelentes vozes e instrumentistas. Uma das características da banda será a frequente mudança de formação, mantendo-se Pinho, Rodrigues e o violoncelista Celso de Carvalho e, mais tarde, António Pinheiro da Silva, como núcleo duro.
Em 1973 dá-se o encontro entre Pinho e Rodrigues, que iniciam de imediato a escrita do seu primeiro álbum, Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Bonifácios, apenas editado em 1975. O nome do álbum denotava já o tom surrealista que vai acompanhar toda a obra do grupo, surrealismo esse acentuado pêlos desenhos de Carlos Zíngaro na capa do LP. No ano anterior saíra um single com os temas Ladainha das Comadres e Lavados Lavados Sim. No disco colaboravam Judi Bren-nan e Helena Afonso nas vozes, Carlos Zíngaro, Luís Linhares, José Campos e Sousa e Nelson Portelinha. António Pinho, assina todas as letras e Nuno Rodrigues compôs os temas (excepto Aliciação e Opúsculo).
Mas é no ano seguinte que sai o primeiro disco verdadeiramente marcante do grupo: Coisas do Arco da Velha. O talento satírico dos trocadilhos de Pinho conjuga-se com soluções inovadoras, e o disco é marcado pela guitarra de Armindo Neves e pelo violino de Mena Amaro, que substituiu Zíngaro. Cândida Soares participa e reforça a vocalização, ao mesmo tempo que ganha um nome artístico: Cândida Branca-Flor, do título da terceira faixa do disco, Romance de Branca-Flor. Temas como Canto de Amor e Trabalho, Morgadinha dos Canibais, ou Cantiga d'Embalar Avozinhas contribuíram para um inesperado sucesso junto do público e da crítica, que o considera disco do ano.
Se em Coisas do Arco da Velha a recolha etnográfica, depois livremente trabalhada e adaptada, é ainda decisiva para o resultado final, o álbum seguinte da Banda do Casaco inclina-se para a experimentação e o vanguardismo. Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos (1977), pretendia ser uma sátira à instabilidade económica e à precaridade social do país. Num álbum onde são significativas a entrada para o grupo de António Pinheiro da Silva e as colaborações dos "iniciados" Gabriela Schaaf na voz e Rão Kyao no saxofone tenor, destacaram-se os temas País, Portugal, Geringonça e Acalanto.
Este álbum é uma das jóias perdidas da nossa música popular. De facto, o master de Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos perdeu-se, o que torna impraticável a sua reedição em CD.
No ano seguinte, Contos da Barbearia sintetiza os trabalhos anteriores, incorporando as colaborações do contrabaixista José Eduardo e do baterista Vitor Mamede, além do regresso de Zíngaro. Mas é preciso esperar três anos mais para, em 1981, sair novo disco da banda que viria a causar forte impressão junto do público e da crítica. No Jardim da Celeste trazia duas novidades: uma sonoridade mais "urbana", aproximando-se do rock, e a participação de duas notáveis figuras: Né Ladeiras, na voz, após ter colaborado com a Brigada Victor Jara e os Trovante; e Jerry Marotta, baterista de Peter Gabriel, de reputação internacional, que gostou tanto da banda que veio a Portugal gravar com ela. Do disco sobressai Natação Obrigatória, presença "obrigatória" nas playlists das rádios.
Também Eu (1982), é o último álbum de originais do grupo (haverá ainda em 1982 a compilação, em duplo, A Arte e a Música da Banda do Casaco), onde se faz sentir a ausência de António Pinho, um dos pilares do projecto. Notabiliza-se Salve Maravilha, na voz de Né Ladeiras. Em 1984 o grupo dá o seu primeiro e único espectáculo ao vivo, que deste modo encerra uma década de prodigiosa reinvenção dos pressupostos da música popular portuguesa. Nas palavras de Nuno Rodrigues: "Entre António Calvário e Sérgio".
Discografia:
Em 1973 dá-se o encontro entre Pinho e Rodrigues, que iniciam de imediato a escrita do seu primeiro álbum, Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Bonifácios, apenas editado em 1975. O nome do álbum denotava já o tom surrealista que vai acompanhar toda a obra do grupo, surrealismo esse acentuado pêlos desenhos de Carlos Zíngaro na capa do LP. No ano anterior saíra um single com os temas Ladainha das Comadres e Lavados Lavados Sim. No disco colaboravam Judi Bren-nan e Helena Afonso nas vozes, Carlos Zíngaro, Luís Linhares, José Campos e Sousa e Nelson Portelinha. António Pinho, assina todas as letras e Nuno Rodrigues compôs os temas (excepto Aliciação e Opúsculo).
Mas é no ano seguinte que sai o primeiro disco verdadeiramente marcante do grupo: Coisas do Arco da Velha. O talento satírico dos trocadilhos de Pinho conjuga-se com soluções inovadoras, e o disco é marcado pela guitarra de Armindo Neves e pelo violino de Mena Amaro, que substituiu Zíngaro. Cândida Soares participa e reforça a vocalização, ao mesmo tempo que ganha um nome artístico: Cândida Branca-Flor, do título da terceira faixa do disco, Romance de Branca-Flor. Temas como Canto de Amor e Trabalho, Morgadinha dos Canibais, ou Cantiga d'Embalar Avozinhas contribuíram para um inesperado sucesso junto do público e da crítica, que o considera disco do ano.
Se em Coisas do Arco da Velha a recolha etnográfica, depois livremente trabalhada e adaptada, é ainda decisiva para o resultado final, o álbum seguinte da Banda do Casaco inclina-se para a experimentação e o vanguardismo. Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos (1977), pretendia ser uma sátira à instabilidade económica e à precaridade social do país. Num álbum onde são significativas a entrada para o grupo de António Pinheiro da Silva e as colaborações dos "iniciados" Gabriela Schaaf na voz e Rão Kyao no saxofone tenor, destacaram-se os temas País, Portugal, Geringonça e Acalanto.
Este álbum é uma das jóias perdidas da nossa música popular. De facto, o master de Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos perdeu-se, o que torna impraticável a sua reedição em CD.
No ano seguinte, Contos da Barbearia sintetiza os trabalhos anteriores, incorporando as colaborações do contrabaixista José Eduardo e do baterista Vitor Mamede, além do regresso de Zíngaro. Mas é preciso esperar três anos mais para, em 1981, sair novo disco da banda que viria a causar forte impressão junto do público e da crítica. No Jardim da Celeste trazia duas novidades: uma sonoridade mais "urbana", aproximando-se do rock, e a participação de duas notáveis figuras: Né Ladeiras, na voz, após ter colaborado com a Brigada Victor Jara e os Trovante; e Jerry Marotta, baterista de Peter Gabriel, de reputação internacional, que gostou tanto da banda que veio a Portugal gravar com ela. Do disco sobressai Natação Obrigatória, presença "obrigatória" nas playlists das rádios.
Também Eu (1982), é o último álbum de originais do grupo (haverá ainda em 1982 a compilação, em duplo, A Arte e a Música da Banda do Casaco), onde se faz sentir a ausência de António Pinho, um dos pilares do projecto. Notabiliza-se Salve Maravilha, na voz de Né Ladeiras. Em 1984 o grupo dá o seu primeiro e único espectáculo ao vivo, que deste modo encerra uma década de prodigiosa reinvenção dos pressupostos da música popular portuguesa. Nas palavras de Nuno Rodrigues: "Entre António Calvário e Sérgio".
Discografia:
Dos Benefícios de Um Vendido no Reino dos Bonifácios (1974)
Coisas do Arco da Velha (1976)
Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos (1977)
Contos da Barbearia (1978)
No Jardim da Celeste (1981)
Também Eu (1982)
Banda do Casaco com Ti Chitas (1984)
Natação Obrigatória (1996, compilação)
Info: http://www.geocities.com/vilardemouros1971/bandadocasaco.htm
Para ouvir uma música:
Para relembrar uma das letras:
Natação obrigatória
Música: Nuno Rodrigues
Letra: António Avelar Pinho
In: Banda do Casaco: "No Jardim da Celeste" (1980)
Viemos do fundapique
passámos no tudasaque
não há mal que mal nos fique
nem há cu que não dê traque
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo
Andámos no malsalgado
brigámos no daceleste
e o escorbuto mal curado
com tratamento indigesto
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo
[refrão=]
Natação obrigatória
na introdução à instrução primária
natação obrigatória
para a salvação é condição necessária
não há cu que não dê traque
não há cu que não dê traque
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo
Pusemos a cachimónia
em papas de sarrabulho
e quando as noites são de insónia
damos voltas ao entulho
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo
Aprendizes da política
só na tática do "empocha"
vem a tempestade mítica
e s cabeça dá na rocha
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo
[refrão]
Sem comentários:
Enviar um comentário